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São José de Ubá é uma das poucas cidades do Noroeste Fluminense que não é banhada por nenhum rio. Tal condição, somada às últimas secas, vem agravando o déficit hídrico local. O Programa Rio Rural vem trabalhando para mudar esse panorama. Desde 2010, a campanha Água Limpa para o Rio Olímpico já protegeu 85 fontes de água em Ubá, o que contribui para fortalecer as atividades econômicas do município, onde 65% dos moradores vivem na zona rural.
“O trabalho de conscientização dos produtores rurais para o manejo racional da água e a proteção das nascentes é antigo. Em 2010, com a criação da campanha, a aceitação deles passou a ser muito melhor. Sem água não há como produzir”, explica a supervisora do escritório da Emater-Rio em São José de Ubá, Norma Lúcia Vieira.
Ela recorda que, há alguns anos, os produtores apresentavam certa resistência em reservar parte de suas propriedades para a adoção de projetos ambientais. Com o subprojeto de proteção de nascentes do Rio Rural, o trabalhador isola aproximadamente um hectare de área ao redor da fonte de água. Essa delimitação, feita com cercas, impede o acesso de animais, o pisoteio da terra e o consequente assoreamento do olho d’água.
“Na zona urbana, as casas recebem a água da CEDAE, captada em outra cidade, já que não temos rio. O município conta apenas com córregos. O maior deles é o São Domingos, mas ele não tem mais a mesma força de antes. Na zona rural, as pessoas dependem das minas de água, que estavam secando”, comenta Norma Lúcia.
A produtora rural Dinorah da Silva, da microbacia Córrego de Ubá, foi afetada pela escassez de água. Há quatro anos, ela teve de abandonar o cultivo de tomate, pimentão, pepino, milho e arroz. Nem mesmo morando a poucos metros do Córrego de Ubá, ela teve como manter a irrigação das lavouras.
“Há 20 anos a gente tomava banho, pescava e lavava roupa aqui. Hoje está assim, sem nada. Tive que ficar apenas com a pecuária de corte. A única água que temos é a do açude e não seria suficiente para nenhum cultivo. Já para o nosso próprio consumo, a solução foi investir na construção de poços artesianos”, relembra a agricultora de 78 anos.
No ano passado, a produtora, que também possui subprojeto de pastejo rotacionado, aplicou os recursos do Rio Rural na proteção de nascentes e está ansiosa para voltar a ter fartura. “Estamos esperançosos de que chova bastante e que a preservação nos ajude a ter muita água para ver as lavouras prosperando de novo”, emenda Dinorah da Silva.
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A ação do homem e a escassez de água
Assim como em boa parte do Noroeste Fluminense, São José de Ubá convive com as consequências de práticas ambientais incorretas do passado. A Mata Atlântica foi sendo devastada pela aração de morro abaixo, queimada, desmatamento para implantação das lavouras de cana-de-açúcar, café e algodão. A partir da década de 1960, a degradação se tornou mais evidente com o plantio do tomate de mesa (destinado ao consumo direto), hortaliça que confere ao município o título de segundo maior produtor estadual.
O tomateiro é uma planta que exige muita água, pois seu fruto maduro possui até 95% de líquidos. Em função disso, “os agricultores usavam de 200 a 300 litros de água por pé de tomate para fazer o molhamento”, lembra o produtor Walter Ferreira, também da microbacia Córrego de Ubá.
Em 2014, Ferreira, que trabalha com gado leiteiro, foi contemplado pelo subprojeto de proteção de nascente. Segundo ele, um ano depois, a água já estava dando sinais de ressurgimento. “Na época brava da seca, o capim não crescia direito por falta de água. Minha produção de leite caiu mais de 60%. A gente fica mais aliviado com tudo voltando ao normal. Temos que preservar”, conta o produtor.
Norma Vieira afirma que o sucesso da campanha está ligado a uma das questões mais importantes no campo na atualidade. “Se apostarmos em sustentabilidade e tivermos água com fartura, é nossa chance de evitar o êxodo rural. Com ela, temos continuidade de vida para as futuras gerações. Meu sonho é que Ubá se torne um oásis no Noroeste Fluminense”, encerra a supervisora local da Emater-Rio.
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Fonte: Ascom