Trocar conhecimentos de forma a incentivar a adoção de práticas sustentáveis na agricultura familiar. Este é o objetivo das excursões técnicas promovidas regularmente pelas equipes executoras do Rio Rural. Nesta semana, treze produtores do município de Rio das Ostras foram até a vizinha Macaé, no Norte Fluminense, para aprender com a experiência bem sucedida da criação de galinhas caipiras em consórcio com a horta orgânica.
A visita aconteceu na propriedade do casal Sônia Maria da Silva e Arenilton Gomes, na microbacia Canal Jurumirim, que há 15 anos deixou a rotina dos centros urbanos para retornar ao campo. Em 2014, eles implantaram o kit galinha caipira, que está entre os dez principais subprojetos apoiados pelo Rio Rural. Semanalmente, as 50 galinhas do sítio, da raça Embrapa 051 – especializada na produção de ovos de mesa com casca marrom – produzem, em média, 120 ovos, todos comercializados na feira municipal, realizada aos sábados.
Por ser uma ave rústica, a galinha é criada solta, em piquetes, e se alimenta de milho, de pequena quantidade de ração e da matéria orgânica produzida dentro da propriedade, como restos de hortaliças. A dieta, somada ao estilo de criação, interfere na qualidade dos ovos, que chegam a pesar até 67 gramas, 17 a mais do que os produzidos por galinhas comuns.
“Eu gostei muito do kit galinha. Os animais não dão trabalho, produzem bem e vendemos as dúzias rapidamente. Depois que termina a época de postura, ainda comercializamos a carne delas e renovamos a criação” afirma Sônia Maria da Silva.
Enquanto recepcionava os visitantes em seu sítio, a produtora contou que redobra a atenção no galinheiro para prevenir doenças. Ela coloca, por exemplo, pequenas gotas de limão na ração. “A medida é para se antecipar ao problema. As aves são extremamente sensíveis ao vírus da gripe. O limão é antioxidante e melhora a resistência das galinhas. É um complemento de vitamina C”, ensina Ana Rita Rangel, técnica da microbacia Canal Jurumirim e também engenheira agrônoma.
A simplicidade na criação e os resultados obtidos com a venda de ovos animaram as produtora Luzia de Azevedo, da microbacia Rio Jundiá/Ostras. “Já havia procurado o Rio Rural para ver como funcionava o kit galinha. Me impressionou ver que, mesmo sem muita ração, as aves ficam bem gordinhas. Acredito que pode ser uma boa fonte de renda para mim”, confessou a produtora.
Horta orgânica: o ciclo do reaproveitamento
Os restos de hortaliças consumidos pelas galinhas poedeiras vêm da horta orgânica cultivada no terreno do casal. A plantação de alface, cebolinha, couve e outras olerícolas é feita sem o uso de fertilizantes químicos. Em seu lugar, a produtora utiliza a compostagem, em que mistura palha seca, estrume bovino e esterco de galinha.
“Se tenho galinha aqui, por que não me aproveitar disso? Até se houver vísceras delas, coloco na compostagem. A mistura fermenta conforme molhamos aos poucos. Depois de 30 dias, tudo vira uma terra preta. É sobre essa terra que ergo minha plantação. Uma maravilha!”, conta Sônia.
A agrônoma Ana Rangel, por sua vez, explica que a compostagem na horta orgânica é muito importante. “A camada da compostagem segura umidade, impedindo o ressecamento da terra, afastando o risco de erosão. Também melhora a estrutura do solo, o oxigênio e o sistema radicular das plantas”, assegura. Atualmente, a maior parte da produção do sítio é destinada à merenda escolar.
E a possibilidade de viver de forma mais saudável e obtendo ainda uma ampliação de mercado encantou o visitante Frederico Pessanha, tamb[ém da microbacia Rio Jundiá/Ostras. Ele trabalha com a produção de queijos artesanais e venda de ovos caipiras e quer aumentar o porte de sua horta. “Ainda ganho dinheiro com uma vidraçaria, mas quero viver apenas de agroecologia. Aprendi aqui nessas conversas que dá para viver bem, sem veneno e feliz”, conta ele.
Sementes da mudança
De acordo com o supervisor da Emater-Rio em Rio das Ostras, Frederico Muzy, as excursões são enriquecedoras porque possibilitam o contato direto entre agricultores de cidades diferentes, mas que guardam interesses em comum. “Por mais que façamos seminários, reuniões, as excursões permitem que agricultores conheçam, na prática, o funcionamento de um subprojeto. Aqui o produtor é professor e a propriedade, uma escola”, sintetiza Muzy.
“Considero importante abrir as portas do meu sítio para receber a caravana. Um dia já estive do lado de lá, de quem quer conhecer, aprender com boas ideias. É isso que quero passar a eles. Trabalhei por anos como frentista de posto de gasolina e hoje estou feliz e realizada no campo”, finaliza Sônia Maria da Silva.
Fonte: Ascom
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